Estratégia de comunicação visual no discurso de Melania Trump: porque a associação da roupa com o autoritarismo não afeta a campanha republicana

Com a Convenção do Partido Republicano, que aconteceu na última semana de agosto, o mundo voltou o foco para a família Trump. Análises e criticas aos discursos do presidente pautaram a grande mídia e diversos memes com as roupas e expressões faciais da primeira-dama lotaram as redes sociais.

Um desses memes buscava associar a roupa de Melania a regimes autoritários em uma tentativa de alertar para os riscos de se ter o mesmo tipo de governo nos EUA, caso sigam com Trump no poder. Porém, vale destacar que nesse nível de política não existe amador. É inocente achar que não foi considerada essa comparação, mas na política sempre se pesa o custo-benefício da mensagem pensada para o eleitorado, pois ninguém tem a ilusão de agradar 100% dos eleitores.

Quando falamos de estratégia de comunicação e imagem precisamos ter claro que as pessoas têm gostos, ideologias e crenças diferentes. Por isso é fundamental ter muito bem definido o público-alvo para a mensagem que se deseja transmitir. Tendo isso em mente, antes de dizer que a primeira-dama errou na escolha da roupa, é importante entender o contexto no qual ela está inserida e fazer uma análise sem a lupa esquerdista e progressista e sem o peso dos gostos pessoais.

Sendo assim, a comparação com regimes autoritários não traz alto custo político a imagem da primeira-dama, nem muito menos ao casal. Afinal, quem se preocupa com os danos de uma ditadura, naturalmente não vota em Trump. Ouso dizer que essa comparação fortalece o discurso do candidato republicano e o aproxima de seus eleitores, que defendem a militarização, guerra e política armamentista.

Estratégia de comunicação

O contexto político traz duras críticas ao atual presidente, dentre elas a falta de empatia e o descaso com as mortes de jovens negros e de vítimas da COVID-19. Sendo assim, a presença da primeira-dama na convenção partidária era estratégica para suavizar a imagem dos republicanos. Porém, apesar da necessidade de se trazer empatia à campanha, havia a preocupação de reforçar a imagem de força e soberania. Não cabe, dentro da lógica republicana, a ideia de alguém frágil e delicada.

A estratégia para humanizar os Trumps foi a fala da primeira-dama, que declarou saber que muitos estavam se sentindo desamparados e rezar pelas famílias que estão sofrendo por terem perdido um ente querido. O local escolhido para o discurso também era acolhedor: o Jardim das Rosas.

Melania Trump em palanque montado no Jardim das Rosas. O jardim foi remodelado pela própria primeira-dama durante mandato do marido.

A ideia de força e soberania veio na comunicação não verbal. Melania apareceu estrategicamente em imagens oficiais caminhando sozinha pelos corredores da Casa Branca. As fotos feitas de baixo para cima traziam ainda mais imponência a cena.

Melania caminha segura e soberana em direção ao púlpito

As peças de roupa foram escolhidas para causar a associação inconsciente com alguns princípios básicos dos militares como servir à pátria, respeito à soberania, respeito à hierarquia, segurança e poder.

A cor verde-militar, o corte de alfaiataria, o cinto pesado os passos firmes reforçam a imagem de segurança e poder.

Se é bem verdade que os presidentes autoritários, comparados com a primeira-dama, usavam uniformes militares, temos, do outro lado da balança, o orgulho que muitos norte-americanos têm dos seus soldados. As incontáveis produções hollywoodianas sobre heróis de guerra são uma prova dessa admiração. Todos esses filmes reforçam os mesmos princípios militares da vestimenta de Melania.

A roupa da grife Alexander McQueen lembrava um uniforme feminino da segunda guerra mundial, usado inclusive pela Rainha Elizabeth II quando ainda era princesa.

Elizabeth II em 1945, aos 19 anos, quando ingressou no Serviço Territorial Auxiliar das Mulheres.

A associação a década de 40 também foi estratégica. Nessa época, com a maioria dos homens sendo recrutados para as frentes de batalha, as mulheres tiveram que ir para o mercado de trabalho, assumindo inclusive a chefia da família quando se tornavam viúvas muito jovens por causa da guerra. De maneira subliminar a vestimenta de Melania “falou” que ela estava pronta para trabalhar e lutar pelo país cuidando das famílias norte-americanas.

Mulheres na década de 40 ocupando espaço no mercado de trabalho.

O reforço ao patriotismo dos republicanos também esteve presente no discurso da primeira-dama pelo cenário com inúmeras bandeiras dos Estados Unidos posicionadas ao fundo do palanque.

Orgulho do país reforçado com bandeiras.

Todos esses elementos, de forma orquestrada, aproximaram Melania dos eleitores do marido e, principalmente, fizeram com que ela conquistasse a admiração de mulheres que tem a mesma vertente política que ela.

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