Jill Biden, doutora em educação e nova primeira-dama dos Estados Unidos, já durante os anos em que o marido era vice-presidente, mostrou que não se encaixava no tradicional estereótipo da mulher de político.
Com dois mestrados e um doutorado na área de educação, durante o governo Obama-Biden, Jill seguiu trabalhando normalmente como professora e disse que pretende seguir dando aula durante o mandato Biden-Harris. A imagem dela reforça a mensagem de mulher profissional e independente, que se conecta com a classe média e com as educadoras norte-americanas.
A simplicidade do vestir dela também acaba reforçando a grande diferença entre ela e Melania Trump, essa simplicidade, porém, não significa que as escolhas das roupas e acessórios não sejam estratégicas. Antes de se formar professora de inglês, ela estudou merchandising em moda e foi modelo. Essa vivencia no universo fashion se reflete em escolhas que mostram a valorização de uma moda sustentável e que atende a mulher madura comum.
A sustentabilidade aparece na imagem de Jill a cada vez que ela repete uma roupa, mas também quando opta por peças feitas de tecidos reciclados (como no caso do vestido usado no primeiro debate presidencial de Joe). Outro comportamento que reforça essa pauta no vestir da primeira-dama é escolher estilistas norte-americanos em começo de carreira, movimentando a economia local e valorizando o empreendedorismo como gerador de emprego e renda. Isso também é sustentabilidade.
A imagem da mulher madura comum, profissional e independente fica por conta da modelagem normalmente usada por Jill. Mangas curtas, alcinhas, vestidos e saias na altura do joelho reforçam a ideia que ela é dona do corpo dela e não esconderá braços e pernas já envelhecidos por causa de estereótipos sobre como uma mulher mais velha deve se vestir. A Dra. Biden gosta de praticidade e nos dias quentes vai sim fazer uso de roupas que a deixem confortável. Além disso, os vestidos evases ou tubinhos sem muitos detalhes, mostram que ela é feminina e tradicional, se veste como a grande maioria das mulheres. Os cortes mais retos e clássicos garantem uma imagem profissional e competente. Estampas e cores suaves ajudam a aumentar a percepção de proximidade e acolhimento.
Os poucos e discretos acessórios potencializam a percepção de uma mulher real, simples e acessível. Ao mesmo tempo em que a escolha de peças com palavras ajudam a transmitir, de forma clara e direta, o posicionamento dela, como a bota com a palavra vote. Botas aliás, fazem parte do vestir de Jill, assim como os sapatos de salto médio ou baixo. Eles ajudam a transmitir a mensagem de que ela é uma mulher poderosa, segura, ativa e trabalhadora, que prioriza tudo aquilo que facilite a atuação profissional dela.
Falando em atuação profissional, a professora e autora de um livro infantil fez questão de gravar o discurso para a convecção do partido democrata em uma sala de aula. O cenário escolhido falava tanto quanto a roupa: era a escola de nível médio onde ela já havia dado aula. Jill é fundadora da Biden Breast Health Initiative, uma instituição que trabalha para conscientizar alunas de segundo-grau sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama. A roupa do discurso foi pensada para mostrar que a futura primeira-dama era uma educadora que sabia as dores das famílias norte-americanas, pois vivia diariamente essa realidade na sala de aula. A cor verde lembrava os quadros-negros, a modelagem remetia a tradicional professora e os poucos acessórios lembravam que ela era simples como a grande maioria das mães e professoras dos Estados Unidos.
Comunicar que ela se preocupa com o país como um todo passou a ser algo extremamente importante na imagem dela, principalmente depois da eleição de Joe Biden. Para os eventos da posse ela fez escolhas que reforçavam as pautas prioritárias da vida dela e chamavam para a união dos norte-americanos.
No evento em homenagem às vítimas da Covid-19 nos Estados Unidos, a primeira-dama escolheu o estilista nova-iorquino Jonathan Cohen, ele é conhecido pelo trabalho sustentável que busca o desperdício zero em cada projeto de roupa. O casaco era feito com retalhos de tecido na cor roxa simbolizando o bipartidarismo. A cor também reforça a importância da participação das mulheres no processo eleitoral.
Na cerimônia de posse Jill Biden usou um casaco de tweed azul com punhos de veludo e bordado com cristais Swarovski e pérolas. A roupa foi feita pela jovem estilista Alexandra O’Neill, que lançou a Markarian, marca de luxo que tem como princípio valorizar o trabalho de artesãs (outra pauta sustentável e de empoderamento feminino). A cor azul clara e as pérolas transmitiam confiança, acolhimento, proximidade, carinho e feminilidade.
No evento noturno o look branco transmitia o pedido de paz e união. As flores bordadas no vestido e no casaco simbolizavam os diferentes estados do país e a flor de Delaware foi bordada na altura do coração. Foi na Universidade de Delaware que Jill se formou como professora de inglês e esse detalhe mostrou o amor que ela tem pela profissão e pela vida acadêmica. A escolha da estilista uruguaia que vive em Nova Iorque, Gabriela Hearst, ajudou a mostrar o respeito pela comunidade imigrante.
Os cabelos loiros, o corte médio, a franja desfiada e o uso sempre liso trazem sofisticação e feminilidade para a imagem dela. Mas lembram também que ela é poderosa e intelectualizada.