Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial no governo Lula, tem uma imagem que reflete exatamente sua história e suas lutas. Basta olhar para a formação dela que você percebe que ela gosta de se comunicar. Ela é e ativista dos direitos das mulheres e dos negros, jornalista, escritora e professora. Sendo assim, não poderia deixar de se comunicar também pelo vestir.
Quando estava no governo de transição, Anielle já havia declarado que “é importante que nós, mulheres e pessoas negras, estejamos em todos os espaços de decisão de forma transversal”. Não era de se esperar, então, que a ministra se vestisse seguindo os padrões de vestimenta eurocêntricos.
Como bem disse Tiago Petrik, coautor do livro “A Carioca” e editor do blog de estilo de rua “RioEtc”, “A carioca tem um jeito solar de viver, um gosto por roupas leves, cores claras e estampas. Ela não é uma consumidora voraz e domina com intimidade os códigos do calor”. E Anielle é carioquíssima nascida na Maré, conjunto de comunidades na Zona Norte do Rio de Janeiro. Observem como todos esses elementos fizeram parte da imagem dela desde sempre.
Ao assumir um cargo de liderança política ela apenas amadurece esses códigos. As estampas passam a ser escolhidas de forma mais estratégica, priorizando tecidos vindos diretamente da África para ajudar a reforçar a pauta de combate ao racismo. A leveza segue no uso das rasteiras, nos cachos, na pele à mostra. Entram as linhas retas, os tecidos mais estruturados e cores mais intensas para transmitir autoridade. Os códigos de calor permanecem mesmo nos dias mais nublados, a exemplo do evento de posse de Lula, quando Anielle estava usando tecidos naturais, cores vivas, pele à mostra, a rasteira, mas se protegia do frio com um maxi-kimono. Um coque alto ajudou a comunicar a imponência e muitos acessórios de concha reforçaram a ancestralidade dela.
A fórmula também funcionou para o look da posse dela. Estampas Africanas, agora em tons mais escuros para transmitir autoridade, uma paleta que destacava o azul que transmite confiabilidade. Uma quebra nos padrões eurocêntricos ao usar rasteira, cropped, calça e kimono. Fendas nas mangas ajudaram a trazer força para a imagem. As tranças, além de reforçarem a ancestralidade, comunicavam que estava pronta para agir ao serem usadas em um rabo de cavalo. Os acessórios, mais uma vez, falavam da origem e da luta da mulher negra.
E assim ela vai equilibrando as mensagens que deseja transmitir. Fazendo questão de deixar claro de onde veio e para que luta. No dia a dia equilibra a leveza dos vestidos, regatas e macacões com o peso dos blazers tipicamente usados pelos homens, mas os dela são coloridos, afinal, ela é carioca.