No meio do burburinho dos novos acontecimentos do cenário eleitoral dos EUA, não dá para ignorar o efeito Obamas. Assim, no plural, porque mais do que nunca não é só sobre o ex-presidente, mas sobre toda a família, principalmente a ex-primeira dama. ?
Michelle deixou muito claro como usou a imagem dela a favor de si própria e do marido. E novamente está usando pela política. Não dá para ser ingênuo e achar mera coincidência que este ano tenha estreado o documentário sobre ela na Netflix e o podcast. ?
Minha História foi publicado em 2018, mas a turnê de lançamento foi em 2019, culminando no filme em 2020. Na mesma época, a campanha presidencial nos EUA começava a se desenhar.
Com louvor a personal stylist Meredith Koop fez Michelle ressurgir como pop-star. Sair das roupas clássicas e tradicionais de primeira-dama e brilhar com paetês, strass, cetins e jóias. Barack aparece como o marido divertido e companheiro. O cara romântico que “invade” entrevistas com buquês de flores. Pouco a pouco a imagem de políticos vai se perdendo e começa a ser construída a de influenciadores. ?
Nos acostumamos a vê-los nos momentos mais íntimos das vidas deles. Fotos do casal na sala, gravando o podcast de forma descontraída, aparecem no feed do instagram. E todo as pessoas começam a falar “adoro ela”, “admiro ele”. ?
Eles adotam a postura de ativistas. Durante a turnê, Michelle falava sobre a importância da representatividade, a preocupação em criar e educar as filhas sem a percepção de que negros e imigrantes nasceram para servir aos brancos e ricos. Sobre a força do voto em um país onde ele não é obrigatório.?
Começa 2020, iniciam-se as prévias eleitorais. Em maio estreia o documentário na Netflix. Julho temos a Convenção do Partido Democrata e Joe Biden é eleito como pré-candidato a presidência. Ele foi vice dos mandatos de Barack. ?
Segue o ano. Movimento “Vidas negras importam” ganha as ruas em meio a uma pandemia. O acirramento dos debates raciais fica cada vez mais forte. Michelle segue falando nas redes sociais sobre a importância do voto, da participação social, da representatividade, dos negros ocuparem os espaços sociais. ?
Essa semana vemos o anúncio de Kamala Harris como vice-presidente da chapa do Democratas. Senadora, advogada, negra, filha de imigrantes. Muitas semelhanças com Barack. E adivinha quem comemorou a indicação? Os Obamas. Michelle Obama postou uma foto de Kamala e falou sobre o que significa a candidatura no processo de representatividade das minorias. Barack Obama trouxe um card clamando “agora vamos vencer isso”. ?
?Política também é feita assim, nos detalhes, nas entrelinhas, no não-dito. No afastar-se da imagem do político tradicional para atrair os olhos dos eleitores e mostrar a importância da participação cidadã em todo o processo eleitoral.